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Valentine

um blog indefinido e mesclado como só ele sabe ser

Livra-te ou Como Falar (Mais) Sobre Livros na Internet

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  E quase à data de saída do 5º episódio, decido finalmente voltar cá para vos falar da minha nova aventura: o Livra-te. Bem, não é só minha. Conto com a ajuda, companhia e amizade boa da minha querida Rita da Nova. Um podcast feito por pessoas dos livros para pessoas dos livros. 

  Há muito tempo que queria falar mais sobre livros e nunca soube bem como. Na altura em que escrevia aqui com mais regularidade, acabava por ser um tema frequente pelo papel importante que ocupa na minha vida, e cheguei até equacionar redirecionar todo este blog para falar SÓ sobre livros. Tal iniciativa acabou por nunca se concretizar tão cedo movida por uma insegurança enorme - quem era eu para dizer às pessoas o que ler, e o que é que as minhas opiniões acrescentariam ao mundo? Sempre pensei que, se era para fazer, era para fazê-lo bem, e não estava a encontrar forma de o fazer. Até que a vontade da Rita se juntou à minha e nasceu o nosso projecto. 

  O Livra-te é, acima de tudo, uma conversa entre duas amigas apaixonadas por mundos fictícios (e não só). Não queremos doutrinar ninguém, nem negamos hábitos de leitura diferentes dos nossos. A nossa postura é o deboche, longe de qualquer rigor académico que possa existir no meio das letras. Do drama mais triste à rom-com mais adorável, há espaço para se falar de tudo com piadas e referências bizarras pelo meio. 

  Fica assim feito o meu convite para conhecerem o Livra-te e acompanharem o que faço quando não estou por aqui. ❤️

 

Sororidade - um conceito que chegou tarde à minha vida.

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  Evito falar de assuntos dos quais não sei o suficiente para formar uma opinião, principalmente se for em público. Algo que parece senso comum, mas não o é para todos. Posto isto, não fiz qualquer publicação, aqui ou noutros espaços, sobre o Dia Internacional da Mulher. Nem política, nem romântica (aquele clássico de identificar a mãe, as amigas, etc. e desejar um bom dia às mulheres da vida. Posso fazê-lo todos os dias, não é direito exclusivo do 8 de março). Mas pensei muito no conceito de sororidade. 

  Percebi que foi algo que chegou tarde à minha vida. Arrisco-me a dizer que foram precisos quase 25 anos para perceber o que de facto engloba e significa, e ainda tenho um longo caminho a percorrer.

  Cresci com a mentalidade de encarar todas as mulheres como competição. Eu queria ser A mulher que se destacava em qualquer campo da minha vida, fosse na escola, ou na vida social. Claro que para o fazer, teria de derrotar todas à minha volta ou simplesmente não deixar entrar o inimigo. Contudo, este foi um pensamento que sempre viveu inconscientemente em mim. Era um dado adquirido, uma formatação que vinha de fábrica. 

  Que atire a primeira pedra quem nunca disse que gostava mais de se dar com rapazes porque as raparigas eram isto e aquilo. Eu disse essa frase em voz alta e por escrito várias vezes na minha vida. Achava que não me alinhar com outras raparigas fazia de mim superior, um ser iluminado que tinha percebido a tempo tudo o que havia de errado naquele núcleo. Isso não me impedia de ter amigas, mas permitia que desdenhasse todas as suas conquistas, sempre acompanhado dum ciúme que muitas vezes me cegou.

  Demorei muito tempo a perceber onde residia o sucesso. Se eu me destacasse seria porque outras antes de mim mo permitiram, e eu estaria também a abrir portas para quem viesse depois. Aliás, tirando esta conversa do campo das conquistas, percebi que estamos todas juntas nisto. (Se tocou High School Musical na minha cabeça ao escrever esta frase? Óbvio.)

  Hoje consigo perceber tudo o que fiz de errado, aprendi com isso e tornei-me melhor. Vamos tirar um minuto para se arrepiarem com esta frase à activista de Instagram. Nunca foi uma competição, mas sim uma colaboração. Demorou, mas cheguei ao sítio onde me esperavam. 

Maneira fácil de perceber se estamos no caminho certo

Lockdown Journals #2

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   Os meus dias são constituídos por uma rotina tão dinâmica e diversa quanto: acordar - trabalhar - almoçar - ver um episódio de uma série qualquer - trabalhar - jantar - ver mais episódios ou ler alguma coisa. Grande parte da minha semana, diga-se 5 em 7 dias, são preenchidos por várias horas de trabalho. O que é normal, mas nem sempre é bom. 

  Há dias em que eu detesto o meu trabalho. Tudo me irrita, demoro a concluir projectos e deixo-me cair numa espiral negativa que escurece tudo à minha volta. Conheço pessoas que lidam maravilhosamente com o trabalho remoto e equacionam até não voltar a um escritório. Eu não sou uma dessas pessoas. O facto de não existir uma separação física entre o meu espaço pessoal e profissional muitas vezes atrapalha o meu bem estar e, consequentemente, a minha produtividade. 

  Mas também existem dias bons, como hoje. Hoje recebi um livro sobre processos criativos que comprei por recomendação de colegas. Li 2 capítulos e emocionei-me com um anúncio em particular. Sim, leram bem, emocionei-me, com olhos molhados e tudo. Um anúncio a um whisky feito para o Dia do Pai em 1980. Talvez isto tenha acontecido porque não vejo o meu pai há 1 mês e o texto é extremamente pessoal. Gosto de acreditar que me emocionei por pensar no poder das palavras. Claro que o objectivo da publicidade é vender, mas também fazer-nos sentir algo. Unir-nos através de uma experiência tão universal quanto as memórias dos nossos pais. 

  Ainda não escrevo publicidades propriamente ditas, contudo faço-o todos os dias em pequenas doses. Tenho a sorte de não o fazer só com o propósito de vender. O meu trabalho foca-se em criar relações através de palavras e isso não é assim tão diferente do que me emocionou naquele anúncio. Este livro fez-me perceber que estou no caminho certo, mesmo que muitas vezes me sinta desanimada (que atire a primeira pedra quem nunca chorou ao computador nos dias que correm).

  Por cada dia mau, existe um dia como hoje e tudo parece mais fácil. Tudo parece certo e há uma plenitude que não se consegue explicar por palavras.

Pensamentos vários sobre ficar em casa

Lockdown Journals #1

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  Em 2020, não escrevi um único post aqui. Num blog que já existe desde 2011, não há qualquer registo do ano mais atípico da minha vida (e de todas as outras, arrisco-me a dizer). Muitas vezes pensei "vou lá" e acabei por nunca vir. Verdade seja dita, foi um ano em que pouco escrevi para mim. Mas ontem, numa insónia desmarcada, pautada pela dor de cabeça que me deram os resultados eleitorais e outras ideias sérias, senti uma enorme vontade de cá voltar.

  Estamos todos outra vez em casa, algo que já não pensávamos vir a acontecer (acho eu). Uma coisa é certa, sou uma privilegiada. A minha vida pouco mudou, o meu trabalho é o mesmo e passar fins de semana inteiros na tranquilidade do meu quarto já era um cenário normal da minha vida. Mas nem sempre é fácil. Uns dias são bons, outros sabem a torradas queimadas e trazem saudades de coisas que o bicho nos tirou.

  Ficar cá dentro é bom. Sobra tempo para arrumar a casa que tanto tomamos por garantida. Quando tudo parece cinzento, há sempre uma memória, uma palavra, algo que nos relembra que nem sempre é assim. Arranja-se maneira de manter a sanidade, que tantas vezes ameaça fazer as malas e partir. Reinventa-se a normalidade e os dias passam. 

  Quando pensei em escrever este post, não o idealizei tão sério. Pensei em contar-vos dos filmes que ando a ver, das pessoas que me fazem bem, da nova vista da minha janela. Fica para outro dia, hoje estamos assim.

Com a cabeça em Lisboa e o corpo no Algarve.

Sobre viver num sítio que não é casa.

 

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  Faz, em fevereiro, 2 anos que saí de casa. O meu "sair de casa" foi semelhante ao de tantos outros - viajar largos quilómetros para estar numa cidade onde fosse possível trabalhar no que gosto. Mas eu invejo tanto o "sair de casa" da maioria dos meus amigos, que incluiu somente deixar a casa dos pais e continuar na mesma cidade.

 

  É estranho. Já estou cá há tempo suficiente para me sentir em casa. Sei bem que já o senti antes, noutra fase da minha vida nesta mesma cidade. Porém quando me perguntam onde vivo, eu digo sempre "Moro no Algarve, mas trabalho em Lisboa", arriscando-me sempre a levar com aquele olhar de lado e o clássico "esta não sabe o que diz". 

 

  O que é certo é que não me imagino a viver nesta cidade para sempre, o que é triste porque ela tem muito para me oferecer. Com que então Lisboa é galardoada por tudo o que é entidade mas aqui para a menina não serve? 

 

  O quão estranho é sentir que o meu futuro profissional é aqui, mas o pessoal é a cerca de 300 quilómetros de distância?

 

Para mais devaneios que assombram esta cabecinha, é só subscrever o estaminé. Reza a lenda que há posts de 6 em 6 meses.

O poder das pequenas coisas

 

 

  Este post começou por se chamar "Como aquecer o coração de uma miúda de 15 anos em 2011" e esteve nos meus rascunhos durante anos. Mudei o título porque finalmente percebi o que queria dizer com ele. Lembrei-me dele hoje porque vi os Vampire Weekend pela primeira vez a semana passada e estou a poucos meses de os ver novamente. Aqui vai:

 

  Em 2011, estava no 10º ano e achava-me a coisa mais intelectual e culta do mundo. Vestia-me com padrões florais e malhas antigas da minha mãe, sempre com os meus Ray-Ban Wayfarer castanhos. Era uma miúda feliz, super interessada no que me rodeava e com um fascínio por indie rock

 

  Em 2011, fiz 15 anos. O expoente máximo do meu dia foi um almoço de noodles de cogumelos, os nossos favoritos, com um balão preso à minha cadeira, em casa do meu ex-namorado. Era algo tão simples mas que encheu tanto. Ele ofereceu-me o Vampire Weekend, primeiro álbum homónimo dos Vampire Weekend, e eu fiquei ainda mais cheia. Porquê? 

 

  Ele já me tinha dado a entender que aquele presente era algo pensado com carinho e não um presente só porque sim. Confesso que, no momento inicial em que abri o presente, não desvendei logo este significado. Cheguei até a ficar um bocadinho desiludida. Até que percebi. 

 

  O Vasco ofereceu-me aquele CD porque eu tinha dito em conversa que, um dia, queria ter todos os meus álbuns favoritos em formato físico. E disse-me "Para começares a tua colecção", quando mo ofereceu. Foi por isso que gostei tanto deste presente e o recordo com tanto carinho. Ele ouviu-me. E ouvirmos com atenção as pessoas de quem gostamos é das melhores coisas que podemos fazer por elas. 

 

  Num mundo cheio de barulho, sejam como o Vasco e ouçam mais. 

 

"O Amor nos Tempos de Cólera" - Uma Opinião

 

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  Finalmente chega a este belíssimo estaminé uma opinião de um livro lido no âmbito do Uma Dúzia de Livros. Isto porque, devido a outras festividades, este mês não vou conseguir estar na reunião presencial, sítio onde normalmente discorro sobre o livro que escolhi. 

 

  O tema para o mês de junho foi um livro passado num sítio que não conhecemos. Dado que tenho um passaporte muito vazio, a escolha não foi difícil. Este desafio tem sido bastante útil para desbravar livros comprados há meses, perdidos na estante. "O Amor nos Tempos de Cólera" era um desses desafortunados. 

 

  Foi a minha primeira vez com Gabriel García Márquez e confesso que não foi amor à primeira página. Cheguei até a comentar na última reunião que tinha ficado completamente estupefacta com a primeira descrição dada sobre Florentino Ariza. O suposto protagonista desta história de amor parecia-se com tudo menos com o príncipe encantado que eu esperava. 

 

  No entanto, esse pormenor foi das coisas que mais me fez gostar deste livro. As personagens são pessoas reais, com problemas reais, sentimentos reais, o pacote completo. Não são perfeitos, erram e lidam com os seus erros. Demorei algumas páginas até perceber que este era parte do encanto da escrita do GGM. 

 

  Escusado será dizer que adorei. A começar nas personagens e a acabar no enredo, este livro absorveu-me como há muito tempo nenhum o fazia. Depois da desilusão enorme que foi o livro do mês passado ("As Flores Perdidas de Alice Hart" da Holly Ringland), este pequeno foi uma lufada de ar fresco nas minhas leituras. 

Hoje venho aqui falar de 'ssoas

É verdade sim senhora, hoje venho aqui falar de 'ssoas. Assim mesmo, não me enganei a escrever, nem estou a tentar ser engraçada. Isto porquê? Porque o meu feed do twitter andou o dia inteiro num reboliço daqueles por causa desta série maravilhosa chamada #SÓQNÃO.

 

E é por isso que hoje venho falar da Joana. Tropecei no blog dela o ano passado, já nem consigo precisar como, mas abençoada essa hora. Trocámos meia dúzia de comentários e encontramo-nos no Super Bock Super Rock. Falámos como se nos conhecessemos desde sempre e, depois disso, foram várias as vezes em que a Joana fez por saber de mim. Sem querer absolutamente nada em troca. Num mundo repleto de parvoíces e gente tola, a Joana fez-me ter mais fé nisto tudo. A Joana tem tanto para oferecer ao mundo e, se vocês ainda não a conhecem, it's your loss, queridos. 

 

Façam um favor à vossa vidinha e vejam isto: 

 

Vamos falar da Guerra dos Tronos

 

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Este tema anda pensado para estes lados já há um bom tempo, mas hoje finalmente ganhei coragem para me agarrar às teclas e discorrer sobre ele. 

 

  Como sabem, mudei de trabalho há pouco tempo. Esta situação fez com que voltasse aos transportes públicos bidiários, nomeadamente comboio e autocarro. E, pessoas que ainda têm fé neste espaço, a verdadeira Guerra dos Tronos não passa na HBO, nem tem dragões, nem rainhas doidas, nem nada que se pareça. Trava-se em autocarros

 

  Conheci níveis de irritação que desconhecia ter em mim com este tema. Isto porque a vida quis que me cruzasse com os Imaculados do Corredor. Quem são estas personagens? São os pulhas (ah, que palavra deliciosa de se escrever e que nunca pode ser usada em contexto oral) que se sentam no banco do lado do corredor, mesmo quando não está ninguém do lado da janela.

 

  Toda a gente sabe que o banco do lado da janela é o Iron Throne dos transportes públicos, menos estes seres estranhos. Os Imaculados do Corredor são tão fieis à causa que não mexem um centímetro de traseiro que seja quando vêem uma pessoa de pé no autocarro. Pior ainda é que ofendem-se com quem lhes pede licença para se poder sentar no lugar vazio. Guardam aquele assento com vista exterior para sabe-deus-quem. Nas primeiras viagens, dei uma abébia. "Devem sair na próxima paragem," pensei, ingénua, inocente, que nem criança tola. Eles não saem na próxima paragem, nem na outra seguir. Eles fazem a carreira toda ali. 

 

  Tenho em mim que, se a Cersei soubesse destas criaturas, estava-se pouco cagando para os elefantes dos outros senhores. 

  Dito isto, se estão tristes com o final da Guerra dos Tronos, aconselho-vos um passeio na Vimeca. A ver se também fazem petições para isto. 

O derradeiro passo

 

 

 

  Em Fevereiro fez um ano que entrei no mundo dos adultos, que é como quem diz "vim morar sozinha, estagiar numa agência onde tive a sorte de ficar contratada". Hoje foi o meu último dia nessa agência e amanhã começo numa nova agência.

 

  O tempo está-me a escorregar pelos dedos depressa. Estão a ver quando vão ao supermercado, ainda estão a guardar as vossas compras nos sacos e já têm 20 produtos alheios amontoados pertos dos vossos, com uma pessoa aborrecida a mirar-vos? É assim que me sinto. Ainda estou a guardar as minhas tralhas de miúda no saco e já tenho todas as complicações adultas a rolarem no tapete a uma velocidade obscena na minha direcção

 

  Aqui que ninguém nos ouve, nunca pensei que fosse ficar com a vaga quando ela surgiu. Ainda hoje me é difícil acreditar e amanhã é o meu primeiro dia. Sou muito confiante em certas capacidades minhas, mas a nível profissional? Sinto-me aquele meme do cão no laboratório sempre. Carrego em botões e as coisas acontecem. Se me pedirem para explicar os botões, fico sem pio e a suar em bica. 

 

  É verdade, licenciei-me há menos de 1 ano e vou embarcar no 2º emprego na área. Tudo por mérito meu. Inacreditável, certo? Malta, eu estudei comunicação. Mais de metade dos meus colegas estão desempregados ou a trabalhar noutras áreas. A sorte com que fui bafejada ainda me consegue surpreender. 

 

  Nada do que escrevi faz muito sentido, mas é este o estado da nação. Olha, torçam por mim que eu também o faço por vocês!